"Guardo um terço do meu salário todo mês", diz Marco Pigossi

Marco Pigossi procura manter os pés fincados no chão. Simpático e falante, o intérprete do Rafael de Boogie Oogie desenvolveu um olhar pragmático sobre a carreira, sem qualquer deslumbramento. "Você está trabalhando hoje em uma novela e amanhã pode não ter trabalho. Aprendi com o Osmar Prado a guardar um terço do meu salário todo mês", conta o ator de 25 anos.

Por enquanto, Pigossi parece não ter com o que se preocupar. Afinal, desde que viveu o carismático Cássio, de Caras & Bocas, sua trajetória vem em uma crescente. De lá para cá, interpretou perfis opostos, como o "bad boy" Rafael de Fina Estampa e o romântico Juvenal de Gabriela. Até ser alçado ao posto de protagonista em Sangue Bom , de 2013. Mas, para ele, o que mais importa é a possibilidade de vivenciar diversas experiências como intérprete. "Se eu não fosse ator, acho que seria um vazio no espaço. Porque quero ser um pouco de tudo e tenho essa sensação de que a vida é muito curta para ser uma coisa só. Na ficção, já fui mecânico de moto, advogado, florista e, agora, piloto de avião", enumera.

Boogie Oogie se passa nos anos 1970 e você nasceu em 1989. O que fez para se inteirar da época?
Marco Pigossi: Nós tivemos um "workshop", assistimos a documentários da época, mas eu também fiz uma pesquisa grande. No YouTube, tem a retrospectiva da década de 1970 inteira narrada pelo Cid Moreira. É legal porque traz todas as informações sobre tudo o que acontecia nos âmbitos social e político. Vi Os Embalos de Sábado à Noite e Trapaça e li a biografia de Patti Smith, que é totalmente anos 1970. Também usei muito o filme Top Gun como referência para a construção do Rafael por conta da questão do aviador. Fiz esse estudo para cair nessa época que não conheci, para entender melhor todo o contexto. E é um período muito interessante, muito rico, de explosão criativa, de cores, de liberdade. Sempre falo que o trabalho do ator é ir pegando algumas referências para construir, aos poucos, esse mosaico.

Quanto tempo antes das gravações você teve para estudar tanto assim?
M.P.: Eu fiquei sabendo dessa novela quando voltei de uma viagem pela América do Sul, em janeiro. Aí, comecei a mergulhar no Rafael e as gravações se iniciaram em maio. Tive um tempo bom para isso.

Mas foi divulgado que você estava cotado para integrar o elenco de O Rebu . Como aconteceu essa mudança de planos? 
M.P.: Eu ia fazer O Rebu. Cheguei a conversar com os diretores, li a sinopse e alguns capítulos. Ainda era meio que um "namoro", a gente tinha se falado e estava mais ou menos pré-estabelecido que eu faria a novela. Mas, quando voltei de viagem, tive uma conversa com a direção da Globo e acabamos decidindo que talvez Boogie Oogie fosse mais interessante. E, para mim, acabou sendo ótimo porque estou muito feliz na novela.

Como você lida com esses "imprevistos" comuns na televisão? 
M.P.: Acho normal. Eu me sinto honrado, inclusive, por ser disputado (risos). Para mim, é maravilhoso. E é legal chegarmos em um consenso para decidir o que pode ser mais interessante. E foi o que fizemos.

Além de Boogie Oogie, você interpretou personagens com o perfil de bom moço em trabalhos recentes, como Sangue Bom e Gabriela. Houve alguma preocupação sua em não se repetir em cena? 
M.P.: Um pouco. Mas são personagens completamente diferentes. Todos eram do bem, mas diferentes. Você pode tentar buscar caminhos diversos para que esses personagens não sejam a mesma pessoa, mesmo sendo outra época, outra história. Se eu tivesse de fazer, em seguida, um papel semelhante ao Rafael, não teria nenhum ânimo. Eu preciso criar alguma coisa que me instigue, que seja diferente.

Mas por que você acha que tem sido tão lembrado ultimamente para papéis dentro desse perfil? 
M.P.: Não acho que eu tenha sido tão escalado assim para mocinhos. Coincidiu de duas obras serem nesse sentido, mas não acho que seja muito. Eu venho de personagens diferentes. Em Gabriela, meu papel era em um outro lugar, não era tão mocinho. Juvenal era tímido, tinha uma sensibilidade e era extremamente romântico. São papéis bem diferentes. Não sinto que estou me repetindo em nenhum momento. Eu fiz o caminho inverso. Meu primeiro personagem que fez sucesso, o Cássio de Caras & Bocas, não foi galã, não foi ligado à beleza, ele estava brincando no humor. Isso foi muito legal para construir minha carreira aos poucos.

Como assim? 
M.P.: Para poder errar, arriscar. Tudo isso foi muito interessante para me dar uma base para hoje fazer um protagonista. Tenho certeza de que foi uma escada, foi um aprendizado para eu chegar com segurança e assumir um cargo de protagonista.

Aliás, como você enxerga a responsabilidade de estar à frente de uma novela na pele do herói da trama? 
M.P.: Eu divido essa responsabilidade com todos os atores, que são ótimos. O protagonista é a espinha dorsal, é o responsável por contar aquela história. É a partir dele que se desenvolve a trama e os outros personagens vão dando base para que essa trama continue. É uma responsabilidade, mas estou muito bem amparado, tanto pelas pessoas com quem contraceno quanto pelo autor e pela direção. Mas preciso estar presente em todas as cenas e consciente. Preciso estar estudado, não posso deixar o ritmo cair.

Esta é a segunda vez que você é escalado para interpretar o papel principal de uma novela – a primeira foi em Sangue Bom. Ficou mais fácil de lá para cá?
M.P.: Acho que fica um pouco mais fácil. Eu desenvolvi um método de estudo, entendo melhor como fazer, sei que é o momento em que vou ter de abrir mão de algumas coisas para que essa novela aconteça porque é muito trabalho. Já tenho algumas técnicas de conseguir levar isso de uma maneira melhor.

Como funciona esse método de trabalho que você desenvolveu? 
M.P.: Eu trabalho domingo, de 10 da manhã até umas 4 da tarde, decorando o texto da semana inteira. Aí, quando chego em casa cansado, depois de um dia de gravação, só releio e relembro o que estudei e decorei antes. No dia seguinte, estou pronto. Se eu fosse chegar em casa, 10 da noite, para decorar o texto do dia seguinte, cansado, não conseguiria. Criei esse método porque a velocidade é muito alta e é muito fácil você ser atropelado pelo ciclo. Não tem folga. Protagonista é um trabalho integral, mas tem um tempo de duração.

Você nutria vontade de ser protagonista de novela? 
M.P.: Nunca me preocupei com isso, mas sim sempre com bons personagens. Acho que tem coadjuvantes maravilhosos, tão bons quanto protagonistas e vice-versa.

Mas ocupar o posto principal de uma trama não mudou nada em sua vida? 
M.P.: Acho que não. O que me trouxe um conhecimento do meu trabalho dentro da Globo foi o fato de eu conseguir fazer personagens diferentes, distantes uns dos outros, que me motivavam nesse sentido. Era isso que eu buscava e ainda busco. É o que me move, não os rótulos.

Sem diferenciação
Marco Pigossi já atuou em todos os horários de novelas da Globo. E, apesar da visibilidade de uma trama das 21 horas ser maior, o ator jura não sentir diferença de uma faixa para outra. Até porque a cobrança que ele próprio se impõe permanece a mesma sempre. "Eu coloco uma pressão em mim para que tudo dê certo. Na verdade, é uma responsabilidade", explica.
O único detalhe que não passa despercebido por Pigossi é o tempo demandado para produzir um folhetim em cada horário. Agora em Boogie Oogie, por exemplo, ele percebe que é possível fazer um trabalho mais cuidadoso. Afinal, o capítulo é mais curto que o de uma trama das nove, em que a urgência em gravar é intensa. "Querendo ou não, a gente tem um pouco mais de tempo para fazer a novela acontecer e isso é muito bom. Temos mais tempo de preparação para o personagem, para estudar a cena e, na hora de gravar, dá para fazer com mais calma", compara.

Respiro necessário
Marco Pigossi acredita que fazer teatro é a melhor maneira que um ator tem de se reciclar. Por isso, é comum em sua trajetória intercalar as novelas das quais participa com uma peça. Mas, desde Sangue Bom, ele não conseguiu voltar aos palcos. Jejum que pretende quebrar assim que Boogie Oogie chegar ao fim, com o espetáculo Montagem, de Rodrigo Nogueira. "É uma brincadeira em cima de dois atores fazendo uma peça de teatro. É uma metalinguagem. Estou empolgadíssimo", assume.


Trajetória televisiva
Um Só Coração (Globo, 2004) - Dráusio.
Eterna Magia (Globo, 2007) - Miguel.
Queridos Amigos (Globo, 2008) - Bruno.
Caras & Bocas (Globo, 2009) - Cássio.
Ti-Ti-Ti (Globo, 2010) Pedro.
Fina Estampa (Globo, 2011) - Rafael.
Gabriela (Globo, 2012) - Juvenal.
Sangue Bom (Globo, 2013) - Bento.
Boogie Oogie (Globo, 2014) - Rafael.

Fonte: Terra.

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